domingo, 1 de maio de 2011

Beleza vai à mesa? Estética, cyborgs e mulheres no MMA feminino*

Gina, a musa-unanimidade do MMA feminino

Atletas belos sempre foram excelentes vitrines pra o esporte. Chamam a atenção da torcida, atraem audiência, hipnotizam multidões e garantem o precioso patrocínio. Mas quando ser bonito, ou melhor dizendo, bonita, se torna uma necessidade pra ter sucesso, a coisa fica complicada. É exatamente essa a situação do MMA feminino. Conquistar o público (em parte machista) do MMA exige vender lutadoras lindas, sexies e atraentes, para o espetáculo ficar mais “palatável”. Ainda são aqueles ecos de que luta de mulher só é interessante se for no gel ou na lama, bem ao estilo freak-show que tanto atrai os olhares masculinos.


Miesha Tate: fotogenia que atrai patrocínio e público

Agora, queridos, sinto informá-los que nem todas as lutadoras são Ginas Caranos ou Mieshas Tates (que além de lindas, são excelentes atletas). E nem por isso o WMMA  deve ser visto como um espaço de mulheres brutas e masculinizadas. É uma visão tão tosca  do esporte que nem me dá vontade de  desconstuir esse argumento infame. O MMA feminino só vai evoluir quando passarmos do questionamento superficial que gira em torno de questões estéticas para o questionamento sobre as técnicas das lutadoras. Isso mesmo, da estética para a técnica.


Kyra Gracie: sinônimo de lutadora bonita, se tornou a musa do jiu-jitsu

Bom, não sou contra a promoção de uma lutadora por sua beleza. Como disse lá em cima, é bom para o esporte, chama público e patrocínio. No entanto, questiono o fato de ficarmos estacionados nisto, enxergando o WMMA apenas como uma vitrine no qual só devem ter destaque as atletas que se encaixam no padrão de beleza atual. Aí a coisa vai ficar estagnada. Se os homens que tanto apreciam MMA se dessem oportunidade pra ver as finalizações espetaculares de Marloes Coenen (a là Anderson Silva) e Megumii Fujii, os punchs poderosos da Cris Cyborg, Amanda Nunes e Sarah Kaufmam, a movimentação incrível de Zoila Frausto e suas joelhadas fatais, as quedas da experiente wrestler Miesha Tate, iam enxergar com outros olhos a experiência de duas mulheres lutando em um cage.


Carina Damm, foto acima: atraindo holofotes sob o apelido de "Barbie Girl" do WMMA

Só, que, infelizmente, parece ser mais interessante ver a bunda da Carina Damm ou os seios da Gina Carano, que são apenas uma pequena parte da história que envolve a promoção do MMA feminino.  Até quando continuaremos analisar o WMMA apenas pelo injusto, redutor e excludente critério da beleza?  Tomara que isso mude em breve... Imagina se eu só assistisse as lutas do  Maurício Shogun ou do Lyoto Machida (que na minha opinião são os mais gatos) e desprezasse os outros lutadores, pelo simples fato de eu achá-los “feios”? Rídiculo, não?

Atleta em ascensão, a russa Yana Kunitskaya também conjuga beleza e competência 



* O título do texto faz uma alusão ao famoso livro da escritora feminista Donna Haraway, Ciencia, cyborgs y mujeres: la reinvención de la natureleza, publicado inicialmente em 1938.

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